16 janeiro 2008

Receita De Ano Novo


RECEITA DE ANO NOVO


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

http://br.youtube.com/watch?v=_u63lgD4pcM

Proibir


Proibir

Hoje estou sentindo o significado da palavra proibir.
Hoje estou proibibida do melhor sentimento que existe,
o de amar e ser amada.
Proibida de ver, abraçar, beijar de sentí-lo,
Proibida até de ouví-lo.
O pior dessa proibição,
é que sou proibida pelo grande amor da minha vida.
Hoje a palavra proibido, tem outro significado!
Significa: ausência, vontade, desejo e o pior de todos os sentimentos: Saudade!
Saudade do meu grande amor,
Saudade de ser feliz,
Saudade de viver,
Saudade de você,
Saudade de nós!


(Tânia Mara Lopes)



CANÇÃO DE BARCO E DE OLVIDO


CANÇÃO DE BARCO E DE OLVIDO


Para Augusto Meyer
Não quero a negra desnuda.
Não quero o baú do morto.
Eu quero o mapa das nuvens
E um barco bem vagaroso.

Ai esquinas esquecidas...
Ai lampiões de fins de linha...
Quem me abana das antigas
Janelas de guilhotina?

Que eu vou passando e passando,
Como em busca de outros ares...
Sempre de barco passando,
Cantando os meus quintanares...

No mesmo instante olvidando
Tudo o de que te lembrares.


(MÁRIO QUINTANA)

http://br.youtube.com/watch?v=0-Wyo2knCMc&feature=related

Morto Desde Ontem


Morto Desde Ontem

Isso te deixará sem nada à dizer
Perdido sem um caminho
Não é engraçado, criança
O amor ás vezes te deixa
como se estivesse morto desde ontem

Desejando um pouco de luz
Como uma criança
a qual foi dita que não pode brincar


Jamais imaginei, Senhor,
que o amor pudesse me fazer sentir
Como se estivesse morto desde ontem

Oh Senhor, você poderia me ajudar
a encontrar algum refúgio?

Oh Senhor, você poderia me
ajudar a encontrar algum refúgio?

Isso te fará sentir-se vazio e incapaz
E assim é como você ficará

Não é engraçado, criança,
o amor as vezes te deixa
Como se estivesse morto desde ontem.

(Zakk Wylde)





Entre O Sonho E O Sono


ENTRE O SONHO E O SONO


Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.


(FERNANDO PESSOA)