11 fevereiro 2008

Cometi Um Erro


Cometi Um Erro

Estiquei o braço até ao cimo do roupeiro
e tirei de lá umas cuequinhas azuis
mostrei-lhas e
perguntei “são tuas?”
e ela olhou e disse,
“não, essas pertencem a um cão.”
depois disso saiu e não a voltei a ver
desde então. não está em casa.
continuo a ir lá, deixo recados presos
à porta. eu volto e os recados
lá permanecem. pego na cruz de Malta
corto-a do meu retrovisor, ato-a
à maçaneta com um atacador, deixo
um livro de poemas.
quando volto na noite seguinte está tudo
na mesma.
continuo a procurar pelas ruas aquele
couraçado cor-de-vinho que ela conduz
com uma bateria nas lonas, e as portas
penduradas por um fio.
ando às voltas pelas ruas
quase a choramingar,
envergonhado com o meu sentimentalismo e
possível paixão.
um velho homem confuso a conduzir à chuva
a pensar para onde a boa sorte
terá ido.

(Charles Bukowski)

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