25 outubro 2007

Bolero De Ravel


BOLERO DE RAVEL

A alma cativa e obcecada
enrola-se indefinidamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
esta presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador.

"Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tanto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro, o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava quando - por esperteza do amor - senti que éramos um
só."


(Carlos Drummond De Andrade)

Nenhum comentário: