20 outubro 2007

Criptocarpo


Criptocarpo


encostam-se no vidro do caixa automático
um menino se espanta

: a paineira em erupção de algodão doce

neste ano não há enfeites de natal
o semáforo oferece

um velho escondido do sol
pára

ela
reunidos : linho, flores e cálice
nenhum descendente ou memória
que dela mesma
saísse para dar-se àquele
outro lugar na mesa

somente o velho
- pomo seco

( amanhecido
desprendeu-se )

cúmplice

pálpebras
dois côncavos suturados
por onde a ferrugem supérflua
assevera nas matrizes
da casca
a flórula que nasce no íntimo

as raízes incansáveis
buscam desde a folha já caída
o ponto de virar-se
às avessas

na faixa de trânsito a moça
com cigarro aceso entre ruídos
supersônicos distribui panfletos
distancia-se

da tela
os demais elementos
todos
sujam o lêvedo das tinturas
como moscas ( de asas
cansadas ) grudam no tempo
do cristal

meados de dezembro
paz e prosperidade só
chegaram pelo postal
em que a paineira é quase
outra: fixa, inevitável
flama na noite das flores


(Guilherme Vidotto)



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