17 agosto 2007

Para A Feira Do Livro


PARA A FEIRA DO LIVRO

Folheada,a folha de um livro retoma
O lânguido e vegetal da folha folha,
E um livro se folheia ou se desfolha
Como sob o vento a árvore que o doa;
Folheada,a folha de um livro repete
Fricativas e labiais de ventos antigos,
E nada finge vento em folha de árvore
Melhor do que vento em folha de livro.
Todavia a folha,na árvore do livro,
Mais do que imita o vento,profere-o:
A palavra nela urge a voz,que é vento,
Ou ventania varrendo o podre a zero.

Silencioso:quer fechado ou aberto,
Inclusive o que grita dentro;anônimo:
Só expõe o lombo,posto na estante,
Que apaga em pardo todos os lombos;
Modesto:só se abre se alguém o abre,
E tanto o oposto do quadro na parede,
Aberto a vida toda,quanto da música,
Viva apenas enquanto voam as suas redes.
Mas apesar disso e apesar de paciente
( deixa-se ler onde queiram ),severo:
Exige que lhe extraiam,o interroguem;
E jamais exala:fechado,mesmo aberto.



( João Cabral de Melo Neto )

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