23 agosto 2007

Um Poema


UM POEMA

Só é meu
O país que trago dentro da alma
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa
Ele vê a minha tristeza
E a minha solidão
Me acalanta
Me cobre com uma pedra perfumada
Dentro de mim florescem jardins
Minhas flores são inventadas
As ruas me pertencem
Mas não há casas nas ruas
As casas foram destruídas desde a minha infância
Os seus habitantes vagueiam no espaço
À procura de um lar
Instalam-se em minha alma
Eis porque sorrio
Quando mal brilha o meu sol
Ou choro
Como uma chuva leve na noite
Houve um tempo em que eu tinha duas cabeças
Houve um tempo em que essas duas caras
Se cobriam de um orvalho amoroso
Se fundiam como o perfume de uma rosa
Hoje em dia parece
Que até quando recuo
Estou avançando para uma alta portada
Atrás da qual se estendem muralhas
Onde dormem trovões extintos
E relâmpagos partidos
Só é meu
O mundo que trago dentro da alma

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