24 agosto 2007

Distante Melodia



DISTANTE MELODIA


Num sonho d´Íris morto a oiro e brasa,


Vêm-me lembranças doutro Tempo azul

Que me oscilava entre véus de tule -

Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.

Então os meus sentidos eram cores,

Nasciam num jardim as minhas Ânsias,

Havia na minha alma Outras Distâncias -

Distâncias que o segui-las era flores...

Caía Oiro se pensava Estrelas,

O luar batia sobre o meu alhear-me...

– Noites-lagoas, como éreis belas

Sob terraços-lis de recordar-me...

Idade acorde d´Inter-sonho e Lua,

Onde as horas corriam sempre jade,

Onde a neblina era uma saudade,

E a luz – anseios de Princesa nua...

Balaústres de som, arcos de Amar,

Pontes de brilho, ogivas de perfume...

Domínio inexprimível d´Ópio e lume

Que nunca mais, em cor, hei-de habitar...

Tapetes de outras Pérsias mais Oriente...

Cortinados de Chinas mais marfim...

Áureos Templos de ritos de cetim...

Fontes correndo sombra, mansamente...

Zimbórios-panteões de nostalgias,

Catedrais de ser

-Eu por sobre o mar...

Escadas de honra, escadas só, ao ar...

Novas Bizâncios-Alma, outras Turquias...

Lembranças fluidas... cinza de brocado...

Irrealidade anil que em mim ondeia...

– Ao meu redor eu sou Rei exilado,

Vagabundo dum sonho de sereia...


(MÁRIO DE SÁ CARNEIRO)


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