13 agosto 2007

À Tardinha


À Tardinha

entre os sem-face que disfarçam
o improviso de ganhar a vida

é possível
ler a cidade
- estilhaçada
no vidro
o sol a oeste da paisagem
um rastilho curvilíneo aceso
de aço
, quase róseo
púrpura
que transfixa a torre metálica
as britas acolchoantes
como conchas esquecidas pela orla

o trem estria
a plataforma
desfibrando
a trama de encaixes humanos
: pés pisam
sorrisos dessorriem

um casal
entreolha-se

dois senhores procuram algo
talvez 1883
o mesmo apito ainda / iludem-se

escadarias depois uma teia
de arame vazada de nêsperas
antes das catracas quando ela
pétala abandonada sobre o banco de cimento
despedaçasse em desejos aéreos

ele
inadvertidamente segue
o reflexo de si pela vidraça -

em que me revelo


(Guilherme Vidoto)



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