10 agosto 2007

Guardador de Rebanhos


Guardador de Rebanhos

“...O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
Eu sei dar por isto muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se,ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia:tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo,e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe por que ama,nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...”

(Fernando Pessoa)



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