21 julho 2010

Abismo


Abismo

Olho o Tejo,e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando -
O que é sério, e correr?
O que é está-lo eu a ver?
Sinto de repente pouco,
Vácuo,o momento,o lugar.
Tudo de repente é oco -
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo - eu e o mundo em redor -
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser,ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser,idéia,alma de nome
A mim,à terra e aos céus...

E súbito encontro Deus.

( Fernando Pessoa )

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