31 julho 2010

O Que Eu Adoro Em Ti


O Que Eu Adoro Em Ti


Não é a tua beleza

A beleza é em nós que existe

A beleza é um conceito

E a beleza é triste

Não é triste em si

Mas pelo que há nela

De fragilidade e incerteza



O que eu adoro em ti

Não é a tua inteligência

Não é o teu espírito sutil

Tão ágil e tão luminoso

Ave solta no céu matinal da montanha

Nem é a tua ciência

Do coração dos homens e das coisas.



O que eu adoro em ti

Não é a tua graça musical

Sucessiva e renovada a cada momento

Graça aérea como teu próprio momento

Graça que perturba e que satisfaz



O que eu adoro em ti

Não é a mãe que já perdi

E nem meu pai



O que eu adoro em tua natureza

Não é o profundo instinto matinal

Em teu flanco aberto como uma ferida

Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.



O que adoro em ti lastima-me e consola-me:

O que eu adoro em ti é a vida!


( Manuel Bandeira )

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