A CRUZ DE NINGUÉM
Era uma cruz... pequena... de madeira...
em meio às outras cruzes, desprezada,
sobre um monte de terra, abandonada,
sem uma flor sequer por companheira...
Pendendo sobre o chão, tosca, bem feia,
cobria o corpo de um, que foi fadado
a ser talvez, na vida, um desgraçado,
hoje feliz sob um montão de areia...
Vendo-a tão só, nublou-se o meu olhar,
e orei por esse irmão que ali dormia,
pois morto eu fosse, e a minha cruz seria
tal como aquela, ao tempo, a se inclinar...
Ao partir... junto à cruz triste e sozinha
escrevi sobre a terra uma inscrição
que é bem possível que ainda seja a minha:
"Aqui se encontra alguém desconhecido,
um que nasceu talvez por irrisão
e que morreu, sem nunca ter nascido..."
(J.G, de Araújo Jorge)
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