Eu e Faulkner
claro, eu sei que estás cansado de ouvir isso, mas
a maioria repete o mesmo tema vezes e vezes sem conta, é
como se estivessem a tentar aperfeiçoar aquilo que lhes parece estranho
e exterior e importante para eles, é feito por todos
porque toda a gente tem uma forma e um feitio diferente
e cada um deve esgotar o que está para trás
uma e outra vez porque
isso é para eles um pequeno milagre
um pouco de sorte
tal como agora e como antes e antes eu tenho estado a beber
devagar este bom vinho tinto e a ouvir sinfonia atrás
de sinfonia neste rádio preto à minha esquerda
algumas sinfonias lembram-me certas cidades e certos quartos,
fazem-me lembrar que certas pessoas há muito desaparecidas foram capazes de
ultrapassar a morte
e armadilhas e jaulas e ossos e membros
pessoas que tudo atravessaram com alegria e loucura e com
enorme força
em pequenos quartos alugados fui atingido por milagres
e mesmo agora depois de décadas ainda sou capaz de ouvir
uma nova obra nunca antes ouvida e ela ser totalmente
luminosa, um fresco raio de sol
há inúmeros substratos de surpresas vindos do
firmamento humano
a música tem uma forma alegre e infinita de explorar
o profano
os escritores estão confinados aos limites da visão e sentimento que lhes dá
a página e os músicos saltam para uma imensidão sem limites
agora mesmo está o velho Tchaikowsky a resmungar e a queixar-se
na sua sinfonia nº 5
mas é tão boa como quando a ouvi a primeira vez
não ouço um dos meus preferidos, Eric Coates, há algum tempo
mas sei que se continuar a beber o bom tinto e a ouvir
ele será o seguinte
há outros, muitos outros
e assim
isto é só mais um poema sobre beber e ouvir
música
repete, certo?
mas repara em Faulkner, ele não só disse sempre a mesma coisa
uma e outra vez como também disse o mesmo
lugar
assim, por favor, deixa-me aumentar o som a estes gigantes das nossas vidas
mais uma vez: os compositores clássicos do nosso tempo e
de tempos passados
têm afastado a corda do meu pescoço
talvez alarguem um pouco a
tua
(Charles Bukowski)
claro, eu sei que estás cansado de ouvir isso, mas
a maioria repete o mesmo tema vezes e vezes sem conta, é
como se estivessem a tentar aperfeiçoar aquilo que lhes parece estranho
e exterior e importante para eles, é feito por todos
porque toda a gente tem uma forma e um feitio diferente
e cada um deve esgotar o que está para trás
uma e outra vez porque
isso é para eles um pequeno milagre
um pouco de sorte
tal como agora e como antes e antes eu tenho estado a beber
devagar este bom vinho tinto e a ouvir sinfonia atrás
de sinfonia neste rádio preto à minha esquerda
algumas sinfonias lembram-me certas cidades e certos quartos,
fazem-me lembrar que certas pessoas há muito desaparecidas foram capazes de
ultrapassar a morte
e armadilhas e jaulas e ossos e membros
pessoas que tudo atravessaram com alegria e loucura e com
enorme força
em pequenos quartos alugados fui atingido por milagres
e mesmo agora depois de décadas ainda sou capaz de ouvir
uma nova obra nunca antes ouvida e ela ser totalmente
luminosa, um fresco raio de sol
há inúmeros substratos de surpresas vindos do
firmamento humano
a música tem uma forma alegre e infinita de explorar
o profano
os escritores estão confinados aos limites da visão e sentimento que lhes dá
a página e os músicos saltam para uma imensidão sem limites
agora mesmo está o velho Tchaikowsky a resmungar e a queixar-se
na sua sinfonia nº 5
mas é tão boa como quando a ouvi a primeira vez
não ouço um dos meus preferidos, Eric Coates, há algum tempo
mas sei que se continuar a beber o bom tinto e a ouvir
ele será o seguinte
há outros, muitos outros
e assim
isto é só mais um poema sobre beber e ouvir
música
repete, certo?
mas repara em Faulkner, ele não só disse sempre a mesma coisa
uma e outra vez como também disse o mesmo
lugar
assim, por favor, deixa-me aumentar o som a estes gigantes das nossas vidas
mais uma vez: os compositores clássicos do nosso tempo e
de tempos passados
têm afastado a corda do meu pescoço
talvez alarguem um pouco a
tua
(Charles Bukowski)
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