PROFANO, MÍSTICO, CÓSMICO
Quando rememoro os estágios da minha evolução,
Quedo-me, horrorizado, em face dos abismos
Em torno dos quais peregrinei ...
Quando eu era profano,
Totalmente profano,
Ou não te via de modo algum,
Ou te via como múltiplo,
Porque só enxergava o teu mundo.
E como podia deixar de ser ateísta, ou politeísta,
Que não te via ou só te via em teus efeitos?
Quando me tornei místico,
Comecei a perceber-te como o Uno e único,
Longe do pluralismo dos teus mundos,
Que me pareciam teu inimigo e negador.
Também, que semelhança haveria entre a unidade e a pluralidade?...
Mas ... a minha profanidade de anteontem
E a minha mística de ontem
Culminaram na visão cósmica de hoje.
E nessa epifania incolor e onicolor
Da minha experiência cósmica
Eu te contemplo como Brahman e Maya,
Como Nirvana e Sansara,
Como Causa e Efeito,
Como o Transcendente e o Imanente,
Como o Deus do mundo e o Mundo de Deus ...
Mas, o que hoje sei de ti,
Ao fulgor da Luz Universal,
Nunca o poderei dizer a ninguém.
Verbalmente ou mentalmente...
O que de ti sei,
Em silenciosa experiência,
Nunca o poderei dizer à minha mente,
Nem a meus ouvidos,
Nem à mente e aos ouvidos de outros...
Só o sei no silencioso anonimato
Da minha sagrada experiência...
Pequeno e profano é tudo que é dizível
E pensável –
Grande e sagrado é somente o que é indizível
E impensável...
Os "ditos indizíveis" vividos
No "terceiro céu" da experiência divina...
Tu, meu Deus, és a Luz Impolar
Em todas as luzes pluripolares,
Tu és o fecundo Silêncio
Em todos os ruídos estéreis,
Nos sons articulados dos homens
E nos sons inarticulados da natureza...
Quando, por momentos, o meu humano conhecer
Atinge o teu divino Ser,
Roçando com levíssimas asas de andorinha
As fímbrias do Infinito –
Então eu vislumbro o que tu és, ó anônima e silente Divindade!
Mas este meu saber jaz amortalhado
Em impenetrável mistério
Para meu ego consciente e vígil.
Porque esse saber da alma é o não-saber do Intelecto
E dos sentidos ...
Somente o meu silente Eu sabe o que tu és.
O meu ruidoso ego te ignora ...
Na imensa catedral do meu saber anônimo
Eu celebro a minha liturgia cósmica,
Adorando...
Amando...
Saboreando...
A vida Universal...
(Huberto Rohden)
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