25 novembro 2007

EM SOLITUDE GLACIAL


EM SOLITUDE GLACIAL


Procura a tua felicidade em fazer felizes os outros.
Pensa sempre em dar - e nunca em receber.
Dá-te aos homens aos quais possas ser
pai, filho, irmão, amigo, servo samaritano, redentor.

Sê como o sol ardente no espaço glacial do universo,
irradiando perenemente luz e calor,
ainda que nada recebas em retribuição.

Lá se vão, dia a dia, esses oceanos de claridade solar,
perdendo-se na vastidão do cosmos circunjacente,
abismando-se na imensa frialdade do vácuo...

Consome-se o grande astro, há milhares de milênios,
na vasta solitude do deserto cósmico, sem jamais perceber
o menor efeito da sua constante irradiação.

Verdade é que, à distância de 150 milhões de quilômetros
do seu foco, existe um pequeno planeta em cuja superfície
produzem os raios solares epopéias de vida e beleza
e desenham no espaço fantásticas pontes de sete cores
mas o Sol nada disso sabe, nada disso vê,
nada disso sente nem adivinha...

A sua solidão é absoluta...

Assim, meu ignoto amigo, há de fatalmente acontecer
a ti, a mim, a todos nós que
queremos fazer o bem por causa do bem...

-Há mais felicidade em dar que em receber-...

Deus, o grande sol do universo espiritual,
dá tudo e não recebe nada.

E quanto mais o homem se aproxima de Deus,
mais participa desta felicíssima infelicidade,
de sempre dar sem nunca receber.

Só pode dar sempre sem abrir falência o homem que
dentro do próprio Eu possui inesgotável fonte de riqueza.

Não te iludas, meu amigo!
Serás como uma voz a clamar no deserto...

Uma voz que, talvez, não desperte nenhum eco
de amizade e compreensão, no silencioso Saara das almas...

Talvez não surja no horizonte nenhum oásis
de benevolência e amor, por mais que os teus olhos
sedentos interroguem a intérmina monotonia do areal...

Entretanto, continua a dar aos homens o que tens
e o que és - porque é divinamente belo
dar sem esperança de receber.

Consome-te, solitário astro de incompreendido amor,
exaure-te em pleno deserto de indiferença e ingratidão...

Ainda que nada percebas dos efeitos da tua irradiação,
algures, é certo, brotam flores, cantam passarinhos,
brilham olhos, sorriem lábios infantis,
rejubilam corações humanos
-porque tu, herói anônimo, existes,

Vives...

Oras...

Amas...

Sofres...

(HUBERTO ROHDEN)

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