04 dezembro 2007

BARROW-ON-FURNESS II


BARROW-ON-FURNESS II


Deuses, forças, almas de ciência ou fé,
Eh! Tanta explicação que nada explica!
Estou sentado no cais, numa barrica,
E não compreendo mais do que de pé.

Por que o havia de compreender?
Pois sim, mas também por que o não havia?
Água do rio, correndo suja e fria,
Eu passo como tu, sem mais valer...

Ó universo, novelo emaranhado,
Que paciência de dedos de quem pensa
Em outras cousas te põe separado?

Deixa de ser novelo o que nos fica...
A que brindar? Ao amor?, à indif'rença?
Por mim, só me levanto da barrica.

(FERNANDO PESSOA)

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