13 dezembro 2007

Desesperança


Desesperança


Esta manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah,que penosa lassidão em cada músculo...

O silêncio é tão largo,é tão longo,é tão lento
Que dá medo...O ar,parado,incomoda,angustia...
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.

Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e,astro apagado,a Terra
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.

O demônio sutil das neuroses enterra
A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra...

Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida,e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.

Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspecto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim,sem objeto...

-Ah,como dói viver quando falta a esperança!

(Manuel Bandeira)



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