06 dezembro 2007

A Casa



A Casa


Eles estão a construir uma casa
meio quarteirão abaixo
e eu estou aqui sentado
com os estores fechados
a ouvir os sons,
os martelos a bater nos pregos,
thack thack thack thack,
e então eu ouço pássaros,
e thack thack thack,
e vou para a cama,
e puxo os cobertores até ao pescoço;
têm estado a construir esta casa
há um mês, e em breve terá
os seus habitantes… a dormir, a comer,
a amar, de um lado para o outro,
mas há algo que
agora
não bate certo,
parece loucura,
homens para cima e para baixo com pregos
na boca
e eu leio sobre Castro e Cuba,
e durante a noite passo por lá
e as vigas da casa à mostra
e no seu interior consigo ver gatos a andar
da maneira que os gatos andam,
e um garoto passa de bicicleta
e a casa ainda não está pronta
e de manhã os homens
estarão de regresso
às voltas pela casa
com os seus martelos,
e parece que ninguém jamais deveria construir
casas,
parece que ninguém jamais deveria se
casar,
parece que as pessoas deveriam parar de trabalhar
e sentarem-se em pequenas divisões
em 2ºs andares
sem estores debaixo de luzes eléctricas;
parece que há muito para esquecer
e muito para não fazer,
e nas drogarias, nos mercados, nos bares,
as pessoas estão cansadas, não se querem
mexer, e eu estou aqui
e vejo através desta casa e a
casa não quer ser construída;
através dela eu consigo ver os montes vermelhos
e as primeiras luzes da noite,
e está frio
e aperto o meu casaco
e continuo parado a olhar através da casa
e os gatos param e olham para mim
até que eu envergonhado
começo a caminhar para Norte pelo passeio
onde irei comprar
cigarros e cerveja
e regressar ao meu quarto.


(Charles Bukowski)




Nenhum comentário: