01 dezembro 2007

Uma e Trinta e Seis da Manhã



Uma e Trinta e Seis da Manhã

às vezes rio-me quando penso em
por exemplo
Céline sentado à máquina de escrever
ou Dostoevsky…
ou Hamsun…
homens normais com pés, orelhas, olhos,
homens normais com cabelo e cabeça
sentados a escrever palavras
enquanto têm dificuldades com a vida
enquanto se interrogam quase até à loucura.

Dostoevsky levanta-se
larga a máquina para ir mijar,
regressa
bebe um copo de leite e pensa sobre
o cassino e
a roleta.

Céline pára, levanta-se, vai até à
janela, olha lá para fora, pensa, o meu último doente
morreu hoje, não tenho que lhe fazer mais
nenhuma visita.
quando o vi a última vez
pagou a conta;
são aqueles que não pagam a conta
que continuam a viver.
Céline regressa, senta-se à
Máquina
e demora à vontade dois minutos
até começar a escrever.

Hamsum está junto à máquina a pensar,
será que alguém vai acreditar
nestas coisas que eu escrevo?
senta-se, começa a escrever.
ele não sabe o que é estar
bloqueado:
é um criador do caralho
quase tão bom como
o sol.
ele continua a escrever.

e eu rio-me
não muito alto
só entre estas paredes, estas
paredes amarelas e azuis, sujas,
o meu gato branco a dormir sobre a
mesa
a tapar os olhos da
luz.

ele hoje não está sozinho
e eu também
não.

(Charles Bukowski)



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