05 dezembro 2010

Culpabilidade


Culpabilidade




O que é o perdão?



Vivi na esperança

de o ter entre os dedos.

Quem diz que o alcança

só vive de enredos...



Fiz mal? Mas a quem?

Que venham contar-me

as mágoas geradas

por meu vil desdém

e as feridas mostrar-me

na carne rasgadas.



Fiz mal? Mas a quem?

Fui pedra lançada

no vosso caminho?

Barrei-vos a estrada

com traves de pinho?



Só sei que



há vozes gritando

a culpa que sinto

pesar-me na alma,

há ecos cavando

a dor que pressinto

em noites de calma...



Só sei que

suspensos enredos

da minha agonia,

urdida ao serão

em grande segredo,

tornaram vazia

a minha intuição.



Fiz mal? Sim ou não?

Onde e quando?

Dizei-mo, dizei-mo!



Eu sou como a rocha

virada prò norte,

que acolhe a rajada

em concha bem forte

e a atira prò nada...



Fiz mal? Sim ou não?

Até os duendes,

escondidos e aduncos,

me negam razão.



O que é que vós tendes?

Tremeis como os juncos

nas bordas do rio.

Escondeis-vos de mim,

do meu poderio?



Do meu poderio!

Ah! Ah! Ah!

Tesouros saídos

de cofre guardado

em cave nojenta,

demónios roídos

de querer aturado

em bolsa sangrenta?



Fiz mal? Mas a quem?

Àqueles que ainda

não viram a luz

das coisas imundas?

De ideias fecundas

fiz braços em cruz?



A treva gerada

em dúvida vã

que cobre a minha alma

andou apressada;

a todos levou

a ânsia e a calma

em Deus embarcou?



Fiz mal? Como e onde?

E quando? E quando?



( Isabel Gouveia )

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