05 dezembro 2010

Eternidade


Eternidade




A minha eternidade neste mundo

Sejam vinte anos só, depois da morte!

O vento, eles passados, que, enfim, corte

A flor que no jardim plantei tão fundo.



As minhas cartas leia-as quem quiser!

Torne-se público o meu pensamento!

E a terra a que chamei — minha mulher —

A outros dê seu lábio sumarento!



A outros abra as fontes do prazer

E teça o leito em pétalas e lume!

A outros dê seus frutos a comer

E em cada noite a outros dê perfume!



O globo tem dois pólos: Ontem e hoje.

Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho!

O resto é baile que não deixa trilho.

Rosto sem carne; fixidez que foge.



Venham beijar-me a campa os que me beijam

Agora, frágeis, frívolos e humanos!

Os que me virem, morto, ainda me vejam

Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!



Nuvem subindo, anis que se evapora...

Assim um dia passe a minha vida!

Mas, antes, que uma lágrima sentida

Traga a certeza de que alguém me chora!



Adro! Cabanas! Meu cantar do Norte!

(Negasse eu tudo acreditava em Deus!)

Não peço mais: — Depois da minha morte

Haja vinte anos que ainda sejam meus!



( Pedro Homem de Mello )

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