15 setembro 2007

Viagem


VIAGEM

No perfume dos meus dedos,
há um gosto de sofrimento,
como o sangue dos segredos
no gume do pensamento.

Por onde é que vou?
Fechei as portas sozinha.
Custaram tanto a rodar!
Se chamasse ninguém vinha.
Para que se há de chamar!
Que caminho estranho!

Eras coisa tão sem forma,
Tão sem tempo, tão sem nada...
arco-íris do meu dilúvio! –
que nem podias ser vista
nem quase mesmo pensada.

Ninguém mais caminha?
A noite bebeu-te as cores
para pintar as estrelas.
Desde então, que é dos meus olhos?
Voaram de mim para as nuvens,
com redes para prendê-las.

Quem te alcançará?

Dentro da noite mais densa
navegarei sem rumores,
seguindo por onde fores
como um sonho que se pensa.

Por onde é que vou?

CECÍLIA MEIRELLES


http://br.youtube.com/watch?v=8ui39cwd16s

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