08 agosto 2010

A CEIFEIRA SOLITÁRIA


A CEIFEIRA SOLITÁRIA



Só ela no campo vi:

solitária de altas serras,

ceifa e canta para si.

Não digas nada, que a aterras!

Sozinha ceifa no mundo

E canta melancolia.

Escuta: o vale profundo

Transborda à de harmonia.



Nunca um rouxinol cantou

em sombras da Arábia ardente

ao que exausto repousou

mais grata canção dolente;

ou gorjeio tão extremado

se escutou na Primavera,

cortando o Oceano calado

entre ilhas de Além-Quimera.



Quem me dirá do que canta?

Será que o que ela deplora

é antigo, triste e distante,

como batalhas de outrora?

Ou coisas simples são

do quotidiano viver?

Essas dor's de coração,

que já foram e hão-de ser?



Seja o que for que cantara

é como infindo cantar,

que a vi cantando na seara,

no trabalho de ceifar.

Sem falar, quieto, eu escutava

e, quando o monte subia,

no coração transportava

o canto que não se ouvia



(William Wordsworth)

Nenhum comentário: