31 agosto 2010

Poema do Homem Novo


Poema do Homem Novo




Niels Armstrong pôs os pés na Lua

e a Humanidade saudou nele

o Homem Novo.

No calendário da História sublinhou-se

com espesso traço o memorável feito.



Tudo nele era novo.

Vestia quinze fatos sobrepostos.

Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,

um colante poroso de rede tricotada

para ventilação e temperatura próprias.

Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,

catorze, no total,

de película de nylon

e borracha sintética.

Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,

na cabeça e nos braços,

confusíssima trama de canais

para circulação dos fluidos necessários,

da água e do oxigénio.



A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,

um envólucro soprado de tela de alumínio.

Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,

auscultadores e microfones,

e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,

luvas com luz nos dedos.



Numa cama de rede, pendurada

da parede do módulo,

na majestade augusta do silêncio,

dormia o Homem Novo a caminho da Lua.

Cá de longe, na Terra, num borborinho ansioso,

bocas de espanto e olhos de humidade,

todos se interpelavam e falavam,

do Homem Novo,

do Homem Novo,

do Homem Novo.



Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés.

Caminhava hesitante e cauteloso,

pé aqui,

pé ali,

as pernas afastadas,

os braços insuflados como balões pneumáticos,

o tronco debruçado sobre o solo.



Lá vai ele.

Lá vai o Homem Novo

medindo e calculando cada passo,

puxando pelo corpo como bloco emperrado.



Mais um passo.

Mais outro.

Num sobre-humano esforço

levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.

Com redobrado alento avança mais um passo,

e a Humanidade inteira,

com o coração pequeno e ressequido,

viu, com os olhos que a terra há-de comer,

o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria,

exactamente como faria o Homem Velho.



( António Gedeão )

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