31 agosto 2010

Proémio


Proémio




Em nome daquele que a Si mesmo se criou!

De toda eternidade em ofício criador;

Em nome daquele que toda a fé formou,

Confiança, actividade, amor, vigor;

Em nome daquele que, tantas vezes nomeado,

Ficou sempre em essência imperscrutado:



Até onde o ouvido e o olhar alcançam,

A Ele se assemelha tudo o que conheces,

E ao mais alto e ardente voo do teu 'spírito

Já basta esta parábola, esta imagem;

Sentes-te atraído, arrastado alegremente,

E, onde quer que vás, tudo se enfeita em flor;

Já nada contas, nem calculas já o tempo,

E cada passo teu é já imensidade.



*



Que Deus seria esse então que só de fora impelisse,

E o mundo preso ao dedo em volta conduzisse!

Que Ele, dentro do mundo, faça o mundo mover-se,

Manter Natureza em Si, e em Natureza manter-Se,

De modo que ao que nele viva e teça e exista

A Sua força e o Seu génio assista.



*



Dentro de nós há também um Universo;

Daqui nasceu nos povos o louvável costume

De cada qual chamar Deus, mesmo o seu Deus,

A tudo aquilo que ele de melhor em si conhece,

Deixar à Sua guarda céu e terra.

Ter-Lhe temor, e talvez mesmo — amor.



( Johann Wolfgang von Goethe )

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