28 agosto 2010

Esta é a Forma Fêmea


Esta é a Forma Fêmea



Esta é a forma fêmea:

dos pés à cabeça dela exala um halo divino,

ela atrai com ardente

e irrecusável poder de atração,

eu me sinto sugado pelo seu respirar

como se eu não fosse mais

que um indefeso vapor

e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado

— artes, letras, tempos, religiões,

o que na terra é sólido e visível,

e o que do céu se esperava

e do inferno se temia,

tudo termina:

estranhos filamentos e renovos

incontroláveis vêm à tona dela,

e a acção correspondente

é igualmente incontrolável;

cabelos, peitos, quadris,

curvas de pernas, displicentes mãos caindo

todas difusas, e as minhas também difusas,

maré de influxo e influxo de maré,

carne de amor a inturgescer de dor

deliciosamente,

inesgotáveis jactos límpidos de amor

quentes e enormes, trémula geléia

de amor, alucinado

sopro e sumo em delírio;

noite de amor de noivo

certa e maciamente laborando

no amanhecer prostrado,

a ondular para o presto e proveitoso dia,

perdida na separação do dia

de carne doce e envolvente.



Eis o núcleo — depois vem a criança

nascida de mulher,

vem o homem nascido de mulher;

eis o banho de origem,

a emergência do pequeno e do grande,

e de novo a saída.



Não se envergonhem, mulheres:

é de vocês o privilégio de conterem

os outros e darem saída aos outros

— vocês são os portões do corpo

e são os portões da alma.



A fêmea contém todas

as qualidades e a graça de as temperar,

está no lugar dela e movimenta-se

em perfeito equilíbrio,

ela é todas as coisas devidamente veladas,

é ao mesmo tempo passiva e activa,

e está no mundo para dar ao mundo

tanto filhos como filhas,

tanto filhas como filhos.

Assim como na Natureza eu vejo

minha alma refletida,

assim como através de um nevoeiro,

eu vejo Uma de indizível plenitude

e beleza e saúde,

com a cabeça inclinada e os braços

cruzados sobre o peito

— a Fêmea eu vejo.



( Walt Whitman )

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