25 outubro 2010

Elegia

Elegia




A alegria da vida, essa alegria d'oiro

A pouco e pouco em mim vai-se extinguindo, vai...

Melros alegres de bico loiro,

Ó melros negros, cantai, cantai!



Ando lívido, arrasto o pobre corpo exangue,

Que era feito da luz das claras madrugadas...

Rosas vermelhas da cor do sangue,

Rosas abri-vos às gargalhadas!



Limpidez virginal, graça d'Anacreonte,

Mimo, frescura, força, onde é que estais?... não sei!...

Ó águas vivas, águas do monte,

Ó águas puras, correi, correi!



Eu sinto-me prostrado em lânguido desmaio,

E a minha fronte verga exausta para o chão...

Cedros altivos, sem medo ao raio,

Cedros erguei-vos pela amplidão!



( Guerra Junqueiro )

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