22 outubro 2010

Tristissima


Tristissima




N'um paiz longe, secreto,

Lendaria ilha affastada,

Jaz todo o dia sentada

N'um throno de marmor preto.



No seu palacio esculpido

Não entram constellações;

Os tectos dos seus sallões

São todos d'ouro polido!



Nas largas escadarias

Sobem vassallos ao cento,

De noute suluça o vento

N'aquellas tapeçarias.



E pelas largas janellas

Fechadas, sempre corridas,

Ha flores desconhecidas

Que não olham as estrellas.



Na dextra segura um calix,

- Calix da Dôr e da Magoa!

Onde está contida a agoa

E o sangue dos nossos males!



Pelas florestas sosinhas

Escuras, sem rouxinoes,

Erram chorando os Heroes,

E as desgraçadas Rainhas.



Seguida, á noute, de servas,

Caminha, em cortejo mudo,

Rojando o negro velludo

De seu cabello nas hervas.



Sómente ao vel-a passar

Ficam as almas surprezas;

- Ha todo um mar de tristezas

No abismo do seu olhar!



( António Gomes Leal )

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