02 outubro 2010

O Homem e o Mar


O Homem e o Mar




Homem livre, o oceano é um espelho fulgente

Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,

Como em puro cristal, contemplas, retratado,

Teu íntimo sentir, teu coração ardente.



Gostas de te banhar na tua própria imagem.

Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos

Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,

As queixas que ele diz em mística linguagem.



Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;

Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,

Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;

Os segredos guardais, avaros, receosos!



E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis,

Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,

De tal modo gostais n'uma luta selvagem,

Eternos lutador's ó irmãos implacáveis!



( Charles Baudelaire )

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