18 outubro 2010

A Noite Suavemente Descia


A Noite Suavemente Descia




A noite

Suavemente descia;

E eu nos teus braços deitádo

Até sonhei que morria.



E via

Goivos e cravos aos mólhos;

Um Christo crucificado;

Nos teus olhos,

Suavidade e frieza;

Damasco rôxo, cinzento,

Rendas, velludos puídos,

Perfumes caros entornados,

Rumôr de vento em surdina,

Insenso, rézas, brocados;

Penumbra, sinos dobrando;

Vellas ardendo;

Guitarras, soluços, pragas,

E eu... devagar morrendo.



O teu rosto moreninho,

Eu achei-o mais formoso,

Mas, sem lagrimas, enxuto;

E o teu corpo delgado,

O teu corpo gracioso,

Estava todo coberto de lucto.



Depois, anciosamente,

Procurei a tua boca,

A tua boca sadía;

Beijámo-nos doidamente...

- Era dia!



E os nossos corpos unidos,

Como corpos sem sentidos,

No chão rolaram... e assim ficaram!...



( António Botto )

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