09 outubro 2010

Avarento


Avarento




Puxando um avarento de um pataco

Para pagar a tampa de um buraco

Que tinha já nas abas do casaco,

Levanta os olhos, vê o céu opaco,

Revira-os fulo e dá com um macaco

Defronte, numa loja de tabaco...

Que lhe fazia muito mal ao caco!

Diz ele então

Na força da paixão:

— Há casaco melhor que aquela pele?

Trocava o meu casaco por aquele...

E até a mim... por ele.



Tinha razão,

Quanto a mim.

Quem não tem coração,

Quem não tem alma de satisfazer

As niquices da civilização,

Homem não deve ser;

Seja saguim,

Que escusa tanga, escusa langotim:

Vá para os matos,

Já não sofre tratos

A calçar botas, a comprar sapatos;

Viva nas tocas como os nossos ratos,

E coma cocos, que são mais baratos!



( João de Deus )

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