10 outubro 2010

Spleen


Spleen




Quando o cinzento céu, como pesada tampa,

Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,

E a sua fria cor sobre a terra se estampa,

O dia transformado em noite pardacenta;



Quando se muda a terra em húmida enxovia

D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,

Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,

Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;



Quando a chuva, caindo a cântaros, parece

D'uma prisão enorme os sinistros varões,

E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,

Com paciente labor, fantásticas visões,



- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,

Lançando para os céus um brado furibundo,

Como os doridos ais de espíritos errantes

Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo;



Soturnos funerais deslizam tristemente

Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,

Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,

Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!



( Charles Baudelaire )

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