04 novembro 2010

Apoteose


Apoteose




Mastros quebrados, singro num mar d'Ouro

Dormindo fôgo, incerto, longemente...

Tudo se me igualou num sonho rente,

E em metade de mim hoje só móro...



São tristezas de bronze as que inda choro -

Pilastras mortas, marmores ao Poente...

Lagearam-se-me as ânsias brancamente

Por claustros falsos onde nunca óro...



Desci de mim. Dobrei o manto d'Astro,

Quebrei a taça de cristal e espanto,

Talhei em sombra o Oiro do meu rastro...



Findei... Horas-platina... Olor-brocado...

Luar-ânsia... Luz-perdão... Orquideas pranto...



. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



- Ó pantanos de Mim - jardim estagnado...



( Mário de Sá-Carneiro )

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