06 novembro 2010

O Amor Tudo Mata quando Morre


O Amor Tudo Mata quando Morre




Eu morro dia a dia, sabendo-o, sentindo-o,

com a morte do amor em mim.

Esvaiu-se, ensandeceu, partiu,

espécie de sol sepultado por mãos ímpias,

numa cratera de lua, algures,

ou na tristeza de um retrato emudecido

pela ausência de vozes em redor.

Sem ele, a casa ficou deserta

de risos, acenos e afectos, de tudo,

as mãos ficaram ásperas, secas,

a pele do rosto gretada, fria,

e o sangue tornou-se lento e espesso,

incapaz de dar vida às pequenas folhas

orvalhadas da imaginação das noites.

A erva cresce em redor de mim,

os limões ficaram ressequidos sobre

a toalha bordada, num canto da mesa.

O amor tudo mata quando morre,

detendo no seu movimento elementar,

a máquina que ilumina o coração do dia.



( José Jorge Letria )

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