16 novembro 2010

Que Mimoso Prazer!


Que Mimoso Prazer!




1



Que mimoso prazer! Teu rosto amado

Me raiou na alma! Oh astro meu luzente!

Desfez-se em continente

O negrume cerrado,

Que me assombrava o coração aflito,

Em saudades tristíssimas sopito.



2



Bem, como quando aponta o sol radiante

Pelos ervosos cumes dos outeiros;

Fogem bruscos nevoeiros,

Da roxa luz brilhante;

Assim, mal vi teu rosto, assim fugiam

As Mágoas, que de luto a alma cobriam



3



Quem sempre assim de amor nos brandos laços!

Doces queixas de amor absorto ouvira!

Da idade não sentira

O voo. Entre os teus braços

Me corte o fio, com a fouce, a Morte;

Que perco a vida, sem sentir o corte!



4



Se a meiga Vénus, se o gentil Cupido

Cede a meus votos, cede à minha Amada:

Se esta união prezada

Não rompe um Nume infido...

Não dou por mais feliz o vil Mineiro

Sobre montes de sórdido dinheiro.



5



Não dou por mais feliz o Rei no trono

Lisonjado de Cortesãos astutos.

Já meus olhos enxutos,

Já alegres dão abono

Do gosto, em que se engolfa o peito, ao ver-te,

Dos sustos, que se afastam, de perder-te.



6



Amor quanto é maior, mais é medroso:

Descora, que lhe fuja o bem ganhado.

Quase vejo roubado

O Bem mais precioso...

Das mãos m'o arrancam!... Márcia! e tu - consentes?

Ah! Não digas, que me amas... Márcia... Ai... Mentes.



7

Quero deixar-te. — Antes que tu te enlaces

Nos braços desse, que de Ti me priva.

Resgato a alma cativa,

Antes, que a eles passes.

Não quero ver, em teus grilhões atado,

Lograr-se outrem dum Bem, a mim roubado.



8



Irei vertendo lágrimas iradas

Por essas nuas praias arenosas:

Às Naiadas piedosas

Minhas queixas magoadas

Irei contar. Irei cravar no peito

Um punhal, vingador de meu despeito.





9



Não, linda glória desta vida tua;

Despe os temores de eu querer deixar-te

Eu! — Que jurei amar-te! —

A sorte amarga e crua

Não fará que perjure a sã vontade

De amar em Ti a minha Divindade.



10



Não Inconstância, não os Desfavores

Menos puro farão meu canto amante.

Que eu falte a ser constante

Aos olhos roubadores,

Às faces de carmim, madeixas de ouro,

Em quem Vénus, e Amor põem seu tesouro!



11



Vivas ausente, ou vivas sempre à vista,

O teu Filinto há-de adorar-te puro.

Tens meu peito seguro,

Tens segura a conquista:

Nem doutra sorte esses teus olhos rendem,

Nem estes meus outra adorar pretendem.



12



Jurei a Amor em teu altar sagrado

De agasalhar no seio a Lealdade.

Não temas falsidade

Num coração honrado.

Não quebrarei o juramento amante,

Que fiz ao Deus, que fiz ao teu semblante.



( Filinto Elísio )

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