13 novembro 2010

Requiem por Muitos Maios


Requiem por Muitos Maios




Conheci tipos que viveram muito. Estão

mortos, quase todos: de suicídio, de cansaço.

de álcool, da obrigação de viver

que os consumia. Que ficou das suas vidas? Que

mulheres os lembram com a nostalgia

de um abraço? Que amigos falam ainda, por vezes,

para o lado, como se eles estivessem à sua

beira?



No entanto, invejo-os. Acompanhei-os

em noites de bares e insónia até ao fundo

da madrugada; despejei o fundo dos seus copos,

onde só os restos de vinho manchavam

o vidro; respirei o fumo dessas salas onde as suas

vozes se amontoavam como cadeiras num fim

de festa. Vi-os partir, um a um, na secura

das despedidas.



E ouvi os queixumes dessas a quem

roubaram a vida. Recolhi as suas palavras em versos

feitos de lágrimas e silêncios. Encostei-me

à palidez dos seus rostos, perguntando por eles - os

amantes luminosos da noite. O sol limpava-lhes

as olheiras; uma saudade marítima caía-lhes

dos ombros nus. Amei-as sem nada lhes dizer - nem do amor,

nem do destino desses que elas amaram.



Conheci tipos que viveram muito - os

que nunca souberam nada da própria vida.



( Nuno Júdice )

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