16 novembro 2010

Noutes de Chuva


Noutes de Chuva




Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!

Se tu amas no Outomno - já sem rosas! -

A longa e lenta chuva nas vidraças,

E as noutes glaciaes e pluviosas!



N'essas noutes sem luz, que - visionarios-

Temos chymeras misticas, celestes,

E scismamos nos pobres solitarios

Que tiritam debaixo dos cyprestes!



Que evocamos os liricos passados,

As chymeras, e as horas infelizes,

Os velhos casos tristes olvidados,-

E os mortos corações sob as raizes!



N'essas noutes, meu bem! em que desfeito

Cae o frio granizo nas estradas,

E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,

Ouvir a longa chuva nas calçadas!



N'essas noutes, electricas, nervosas,

Todas cheias d'aromas outonaes,

Que a tristeza tem formas monstruosas

Como n'um sonho os porticos claustraes.



Noutes só em que o sabio acha prazeres,

- Tão ignorados dos crueis profanos! -

E em que as nervosas, mysticas mulheres,

Desfallecem chorando nos pianos.



N'essas noutes, meu bem! é que os poetas

Tem ás vezes seus sonhos mais brilhantes,

Folheam suas obras predilectas...

- E evocam rostos... e visões distantes!



( António Gomes Leal )

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