09 novembro 2010

Grita


Grita




Amor, quando chegares à minha fonte distante,

cuida para que não me morda tua voz de ilusão:

que minha dor obscura não morra nas tuas asas,

nem se me afogue a voz em tua garganta de ouro.



Quando chegares, Amor

à minha fonte distante,

sê chuva que estiola,

sê baixio que rompe.



Desfaz, Amor, o ritmo

destas águas tranquilas:

sabe ser a dor que estremece e que sofre,

sabe ser a angústia que se grita e retorce.



Não me dês o olvido.

Não me dês a ilusão.

Porque todas as folhas que na terra caíram

me deixaram de ouro aceso o coração.



Quando chegares, Amor

à minha fonte distante,

desvia-me as vertentes,

aperta-me as entranhas.



E uma destas tardes - Amor de mãos cruéis -,

ajoelhado, eu te darei graças.



( Pablo Neruda )

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