04 novembro 2010

Vertentes


Vertentes




As palavras esperam o sono

e a música do sangue sobre as pedras corre

a primeira treva surge

o primeiro não a primeira quebra



A terra em teus braços é grande

o teu centro desenvolve-se como um ouvido

a noite cresce uma estrela vive

uma respiração na sombra o calor das árvores



Há um olhar que entra pelas paredes da terra

sem lâmpadas cresce esta luz de sombra

começo a entender o silêncio sem tempo

a torre extática que se alarga



A plenitude animal é o interior de uma boca

um grande orvalho puro como um olhar



Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio

sou o teu lábio e a coxa da tua coxa

sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo

sou a sombra que conhece a luz que a submerge



A luz que sobe entre

as gargantas agrestes

deste cair na treva

abre as vertentes onde

a água cai sem tempo



( António Ramos Rosa )

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