13 novembro 2010

Presídio


Presídio




Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo

Que dizer do pescoço, às vezes mármore,

às vezes linho, lago, tronco de árvore,

nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?



E o ventre, inconsistente como o lodo?...

E o morno gradeamento dos teus braços?

Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:

é também água, terra, vento, fogo...



É sobretudo sombra à despedida;

onda de pedra em cada reencontro;

no parque da memória o fugidio



vulto da Primavera em pleno Outono...

Nem só de carne é feito este presídio,

pois no teu corpo existe o mundo todo!



( David Mourão-Ferreira )

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