29 novembro 2010

Canção de Batalha


Canção de Batalha




Que durmam, muito embora, os pálidos amantes,

Que andaram contemplando a Lua branca e fria...

Levantai-vos, heróis, e despertai, gigantes!

Já canta pelo azul sereno a cotovia

E já rasga o arado as terras fumegantes...



Entra-nos pelo peito em borbotões joviais

Este sangue de luz que a madrugada entorna!

Poetas, que somos nós? Ferreiros d'arsenais;

E bater, é bater com alma na bigorna

As estrofes de bronze, as lanças e os punhais.



Acendei a fornalha enorme — a Inspiração.

Dai-lhe lenha — A Verdade, a Justiça, o Direito —

E harmonia e pureza, e febre, e indignação;

E p'ra que a labareda irrompa, abri o peito

E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!



Há-de-nos devorar, talvez, o incêndio; embora!

O poeta é como o Sol: o fogo que ele encerra

É quem espalha a luz nessa amplidão sonora...

Queimemo-nos a nós, iluminando a Terra!

Somos lava, e a lava é quem produz a aurora!



( Guerra Junqueiro )

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