01 setembro 2010

Amanhã


Amanhã




Amanhã as canções serão cantadas

O sol lá no céu brilhará...

As crianças em nós serão ninadas

Sem lobos ferozes, nem bois de cara preta

Amanhã...

A menina seguirá cantando...

Sem anjinhos, esses que foram se deitar

A canção surgirá do avesso

Onde escondem-se os medos, o silêncio, a fragilidade, a neutralidade

Sem alegrias ou tristezas

Nada mais...

Nenhum movimento evolutivo

A menina cantará seus hinos de despedida em silêncio

Ninguém a escutará

Ninguém a acompanhará

A menina desatará os nós dos sapatos

Desfará os laços da emoção

Soltará seus cabelos

Limpará seus lábios de batom

Desnudará seu corpo esquecido

Romperá os limites do planeta

Se juntará às estrelas ausentes

Se entregará ao universo

de mãos vazias e com o coração congelado

Apenas cantando seu silêncio desconhecido

Seus desejos não nomeados

Seus sonhos castrados

Sua pele enrugada

Sua covardia

A menina cantará até que sua voz desapareça



Pelo caminho a menina deixará as alegrias não compartilhadas

as dores não partilhadas

os horrores inquietos

os seus pedaços

sangue escurecido.



Amanhã as canções serão silenciadas

A menina irá se deitar

Nunca mais se levantará

Sua voz continuará silenciosa

Nem os anjinhos a acompanharão

Ela se deitará sozinha

Seu corpo ali

Sua alma lá

Seu sangue frio

Seus sentidos adormecidos.

Seus olhos deitados



Suas mãos unidas se juntarão ao seu rosto

Seu corpo encolhido esquecerá a canção da despedida

Seus lábios se encontrarão

Amanhã...

A menina deixará de cantar.


( Soraia Maria Lopes Martins )

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