14 setembro 2010

Requiescat


Requiescat




Por que me vens, com o mesmo riso,

Por que me vens, com a mesma voz,

Lembrar aquele Paraíso,

Extinto para nós?



Por que levantas esta lousa?

Por que, entre as sombras funerais,

Vens acordar o que repousa,

O que não vive mais?



Ah! esqueçamos, esqueçamos

Que foste minha e que fui teu:

Não lembres mais que nos amamos,

Que o nosso amor morreu!



O amor é uma árvore ampla, e rica

De frutos de ouro, e de embriaguez:

Infelizmente, frutifica

Apenas uma vez...



Sob essas ramas perfumadas,

Teus beijos todos eram meus:

E as nossas almas abraçadas

Fugiam para Deus.



Mas os teus beijos esfriaram.

Lembra-te bem! lembra-te bem!

E as folhas pálidas murcharam,

E o nosso amor também.



Ah! frutos de ouro, que colhemos,

Frutos da cálida estação,

Com que delícia vos mordemos,

Com que sofreguidão!



Lembras-te? os frutos eram doces...

Se ainda os pudéssemos provar!

Se eu fosse teu... se minha fosses,

E eu te pudesse amar...



Em vão, porém, me beijas, louca!

Teu beijo, a palpitar e a arder,

Não achará, na minha boca,

Outro para o acolher.



Não há mais beijos, nem mais pranto!

Lembras-te? quando te perdi

Beijei-te tanto, chorei tanto,

Com tanto amor por ti,



Que os olhos, vês? já tenho enxutos,

E a minha boca se cansou:

A árvore já não tem mais frutos!

Adeus! tudo acabou!



Outras paixões, outras idades!

Sejam os nossos corações

Dois relicários de saudades

E de recordações.



Ah! esqueçamos, esqueçamos!

Durma tranqüilo o nosso amor

Na cova rasa onde o enterramos

Entre os rosais em flor...



( Olavo Bilac )

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