24 setembro 2010

O Sono de Percival


O Sono de Percival




O justo é injusto, o injusto justo é.

Débil julguei ouvir tua voz a desoras.

Um lamento lento, por certo a voz

do vento. Secarei, talvez como o feno,

não dormindo, nem noites, nem dias.



Soluço abafado, sussurro apenas

perceptível após a brancura

obliterante do relâmpago,

quando cessa o fragor que o excede

e a chuva cai e tudo se cala,



terei ouvido tua voz. Secarei,

talvez, como o feno. O justo

é injusto, o injusto justo é.

Procurei no horto e no deserto,

sob o cavo ruído das torrentes



subterrâneas, na imemorial

pedra circular com que o humano

terror balizou os horizontes

do tempo. No espectro da rosa

dos ventos, no vento espectral



da rosa. Seria a voz do vento,

pintura da minha imaginação

doente, a vigília do sono,

a febre dos sentidos,

não dormindo noites e dias



para ouvir tua voz. O justo

é injusto, o injusto justo é

para ouvir tua voz.

Secarei como o feno.

Para ouvir tua voz.



( Rui Knopfli )

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