28 setembro 2010

Evolução


Evolução




Arde o corpo do sol, brotam feixes de luz:

O que é a luz?

Sol que morreu.



Dardeja a luz, dardeja e pulveriza a fraga:

Vai nesse pó, que há-de ser terra,

A luz extinta.



Gerou a terra a seara verde:

Hastes e folhas da seara verde

Comeram terra.



A seara é grada, o trigo é loiro:

Deu trigo loiro,

Morrendo ela.



O trigo é pão, é carne e é sangue:

Sangue vermelho, carne vermelha,

Trigo defunto.



Em carne e em sangue, eis o desejo:

Vive o desejo,

De carne morta.



Arde o desejo, eis o pecado:

Que são pecados?

Desejos mortos.



Queima o pecado o pecador:

Nasceu a dor; findou na dor

Pecado e morte.



A alma branca, iluminada,

Transfigurada pela dor,

Essa não vai à sepultura

Porque é já Deus na criatura,

Porque é o Espírito, é o Amor.



Na vida vã da terra sepulcral

Só o amor é infinito e só ele é imortal.



Morreu a luz, pulverizando a fraga,

Morreu a poeira, alimentando a seara;

Morreu a seara, que gerou o trigo;

Morreu o trigo, que deu vida à carne;

Morreu a carne, que nutriu desejo;

Morreu desejo, que se fez pecado;

Morreu pecado, que floriu em dor;

Morreu a dor, para nascer o Amor!



E só o Amor na vida sepulcral

É infinito e é imortal!



( Guerra Junqueiro )

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