15 setembro 2010

Meditação Sobre os Poderes


Meditação Sobre os Poderes




Rubricavam os decretos, as folhas tristes

sobre a mesa dos seus poderes efémeros.

Queriam ser reis, czares, tantas coisas,

e rodeavam-se de pequenos corvos,

palradores e reverentes, dos que repetem:

és grande, ninguém te iguala, ninguém.

Repartiam entre si os tesouros e as dádivas,

murmurando forjadas confidências,

não amando ninguém, nada respeitando.

Encantavam-se com o eco liquefeito

das suas vozes comandando, decretando.

Banqueteavam-se com a pequenez

de tudo quanto julgavam ser grande,

com os quadros, com o fulgor novo-rico

das vénias e dos protocolos. Vinha a morte

e mostrava-lhes como tudo é fugaz

quando, humanamente, se está de passagem,

corpo em trânsito para lado nenhum.

Acabaram sempre a chorar sobre a miséria

dos seus títulos afundados na terra lamacenta.



( José Jorge Letria )

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