29 setembro 2010

Post Coitum Animal Triste


Post Coitum Animal Triste




Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma

do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada

do desejo, a sua extensão e principias a entregar

os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.



Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores

que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,

o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas

que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.



Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece

a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos

perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.



Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus

no interior de novos frutos e, abandonado, fico

junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.



( Fernando Guimarães )

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