25 setembro 2010

A Gentil Camponesa


A Gentil Camponesa




MOTE



Tu és pura e imaculada,

Cheia de graça e beleza;

Tu és a flor minha amada,

És a gentil camponesa.



GLOSAS



És tu que não tens maldade,

És tu que tudo mereces,

És, sim, porque desconheces

As podridões da cidade.

Vives aí nessa herdade,

Onde tu foste criada,

Aí vives desviada

Deste viver de ilusão:

És como a rosa em botão,

Tu és pura e imaculada.



És tu que ao romper da aurora

Ouves o cantor alado...

Vestes-te, tratas do gado

Que há-de ir tirar água à nora;

Depois, pelos campos fora,

É grande a tua pureza,

Cantando com singeleza,

O que ainda mais te realça,

Exposta ao sol e descalça,

Cheia de graça e beleza.



Teus lábios nunca pintaste,

És linda sem tal veneno;

Toda tu cheiras a feno

Do campo onde trabalhaste;

És verdadeiro contraste

Com a tal flor delicada

Que só por muito pintada

Nos poderá parecer bela;

Mas tu brilhas mais do que ela,

Tu és a flor minha amada.



Pois se te tenho na mão,

Inda assim acho tão pouco,

Que sinto um desejo louco:

Guardar-te no coração!...

As coisas mais belas são

Como as cria a Natureza,

E tu tens toda a grandeza

Dessa beleza que almejo,

Tens tudo quanto desejo,

És a gentil camponesa



( António Aleixo )

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