08 setembro 2010

A Canção do Idiota


A Canção do Idiota




Não me incomodam. Deixam-me ir.

Dizem que não pode acontecer nada.

Ainda bem.

Não pode acontecer nada. Tudo chega e gira

sempre em torno do Espírito Santo,

em torno de determinado espírito (tu sabes) —

que bem.



Não, realmente não deve pensar-se que haja

qualquer perigo nisso.

Sim, há o sangue.

O sangue é o mais pesado. O sangue é pesado.

Por vezes penso que não posso mais —

(Ainda bem.)



Ah, que linda bola;

vermelha e redonda como um Em-toda-a-parte.

Ainda bem que a criastes.

Ela vem quando se chama?



De que estranha maneira tudo se comporta,

apressa-se a juntar-se, separa-se nadando:

amigável, um pouco vago.

Ainda bem.



( Rainer Maria Rilke )

Nenhum comentário: